quinta-feira, 10 de maio de 2012

Amor sem tamanho



Festas de fim de ano, família reunida, noite de alegria e confraternização; tudo preparado para comemorar mais um Natal, no calor de um vinte e quatro de dezembro. Todos bem vestidos, pinheirinho iluminado, rodeado de presentes, presépio montado e a ceia na mesa.
Pontualmente às vinte e uma horas, todos se juntam à mesa para a farta refeição comemorativa, com pratos especialmente preparados para a ocasião. Porém, Gabriel notou a ausência de seu pai, José, saindo a procurá-lo e encontrando-o ajoelhado, no quarto, orando por seus familiares e, principalmente pelo neto, o pequeno Bruninho, que nascera havia alguns meses, de forma prematura. Emocionado, Gabriel hesitou em interromper aquele momento de fé, tentando sair sem ser notado. José percebeu a presença de alguém, próximo a ele e se virou, deparando-se com as lágrimas do filho.
- Meu filho, aproveitei o momento em que todos se distraíam e vim aqui, agradecer por termos, mais uma vez, a família toda reunida e pedir pela saúde de todos nós.
- Pai, percebi seu momento de fé e fiquei apenas observando, em silêncio. Peço perdão por interrompê-lo. Acabei ouvindo suas preces, fiquei emocionado pelos pedidos, principalmente pela saúde do Bruninho.
- O seu filho é um anjo, mandado por Deus, que chegou para alegrar e iluminar a nossa família, ensinando-nos, novamente, o valor do amor. E nada me faria mais feliz do que ver meus netos esbanjando saúde, referindo-se aos filhos de Gabriel – Carla, Lucas e Bruno.
- Não tenho nem palavras pra agradecer todo esse carinho e amor pelo Bruninho. Muito obrigado pai.
Num momento de silêncio, os dois se abraçaram e choraram, como se fossem crianças. Era um momento de pura emoção.
Em seguida, Gabriel completa:
- Pai, vim aqui pra avisar que a mesa está servida. Vamos lá para jantar?
- Claro, já estou indo lá, vou lavar meu rosto e, em seguida, estarei lá. – concordou José.
Gabriel retorna à mesa, anunciando que chamou o pai, este que logo se junta com o resto do pessoal, sentando-se em seu lugar habitual, a ponta da mesa.
Antes da refeição, José faz mais uma oração, agradecendo a benção de ter a família reunida novamente e pela farta ceia que está sobre a mesa.
Após a ceia, sentados ao redor da árvore de natal para o momento mais esperado da noite, principalmente pelas crianças (Carla e Lucas, irmãos de Bruno), começa a distribuição dos presentes, destes, a maioria destinada aos pequenos.
A noite prosseguiu, como era de costume, com muita conversa e descontração, visto que eram raras as oportunidades de se reunirem durante o ano. Após conversar com o filho e a nora, José desperta seu espírito infantil, brincando com as crianças e, aproveitando o momento, contando histórias do nascimento de Jesus, o real motivo da comemoração natalina.
Encerrada a reunião familiar, Gabriel e sua família retornam pra casa, enquanto José e Ana, sua esposa, vão, alegres, descansar, pois reunir a família os trazia muita felicidade.
Era sabido que a saúde do Bruninho não era 100%, pois seus exames deram alterados, mas necessitava mais exames para confirmar qualquer suspeita, o que acabou acontecendo no período entre o Natal e Ano Novo. De acordo com os exames, confirmou-se uma leucemia, que afeta as células sangüíneas, por desordens na medula óssea. Ao tomarem conhecimento, tanto os pais, como irmãos e avós, ficaram chocados e se desesperaram.
- O que vai ser do Bruninho? Eu não consigo acreditar nisso! Por quê? Por que logo com meu filhinho amado? Se acontecer algo com ele, não sei o que será de mim, prefiro morrer a perdê-lo! – inconformava-se Rosa, a mãe, abraçando Gabriel.
- Minha nora, Deus escreve certo por linhas tortas, tudo que Ele faz é pelo nosso bem. Vamos ter fé  – dizia José, na tentativa de acalmar Rosa.
 - Eu não consigo aceitar isso que está acontecendo com o Bruninho, ele não merece passar por esse sofrimento – complementou Rosa.
- Como falei, vamos ter fé, vamos rezar! Deus não quer nosso sofrimento, e tudo se resolverá da melhor forma possível! Vamos ver o que é preciso fazer pra salvarmos o nosso pequenino. – disse José, com aparente tranqulidade de quem acredita na justiça divina.
Na virada de ano, novamente, a família se reuniu para celebrar, porém, não havia motivos para comemorar. Conversando entre si, os adultos decidiram que não podiam submeter Bruno à tratamentos fortes, por medicamentos e que, se fosse possível, buscariam alguém que fosse compatível, para fazer transplante de medula.
Assim, os dois casais fizeram exames e descobriram que o único compatível era José, que ficou radiante, pois poderia salvar seu neto. Tão logo foi possível, encaminhou-se ao hospital, para que pudesse fazer a doação da medula para Bruno. Após a operação, todos retornam para suas casas, felizes pelo sucesso do transplante.
Passam-se os anos, Bruno toma conhecimento da sua história e fica impressionado por tudo o que passou, e, por isso, sempre valorizou a família que fez tudo que podia para salvá-lo.
Certo tempo depois, José veio a óbito, para a comoção da família, mas tendo a certeza de que sua vida foi bem aproveitada. E José sabia que sua missão foi cumprida, viveu baseado nos mandamentos da fé e do amor. E assim ele se foi, em paz por ter dado o seu melhor aqui na terra.

5 comentários:

  1. Mais um belo texto André!

    Parabéns!

    Frederico da Luz -

    http://www.fredericodaluz.wordpress.com
    se gostar compartilhe!

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    1. Agradeço pelas palavras Frederico.
      Que bom que estás gostando.
      Abraço!

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  2. Monserrat Casadevall12 de maio de 2012 às 19:59

    André!
    Um texto maravilhoso, parabéns!

    Monserrat

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